Sou uma costureira, bordadeira, crocheteira, tricoteira,
pintora (até de parede se necessário for), entre outras coisas. A vida me deu
meros retalhos em diversos tamanhos, texturas, cores e estampas. Comecei muito
nova a tentar juntar tudo, ora negros, ora sem cor e às vezes tão coloridos que
ofuscavam a visão.
Quando pequena lá pelos meus seis anos fui morar com minha
avó paterna( por conta de um acidente de automóvel que deixou minha mãe
hospitalizada e sua reabilitação demorou meses)e enquanto minha avó costurava
suas encomendas ela cortava roupinhas para minhas bonecas e ia falando como
fazer pra chulear e juntar as partes da roupinha, fazer casinhas para passar os
botões, pregar zíper, fazer casinha de abelha no tecido pra dar um charme no
modelito da roupinha e tudo isso era feito a mão, mesmo porque eu não saberia
mexer numa máquina, eu tinha apenas seis anos de idade na época ou um pouco
mais.
Fui aprimorando e comecei a fazer sapatinhos de tricô para
crianças, casaquinhos, aprendi também a fazer uns bordados que eram muito usados nessas roupinhas, usavam-se linhas bem fininhas e próprias pra este tipo de
trabalho (hoje ainda existe e creio que muita gente até usa) e comecei então a
fazer ponto cheio, rococó, ponto haste depois ponto cruz e com o tempo vieram
mais agulhas e veio tricô e crochê.
Os retalhos foram aumentando e me levaram a enfrentar uma
velha máquina de costura, "e vamos que vamos pedalar", assim fui unindo os
retalhos um a um tentando entender o porquê de serem tão variados.O tempo passou
e a máquina ganhou um motor. Ufa!!! Facilitou muito, mas eu queria mais, só
juntar não bastava.
Veio o pincel, a tela e tomei gosto pelas imagens e comecei
a fazer minhas pinturas, vieram muitas cordas e sons e ganhei meu primeiro
violão de uma prima da minha mãe, eu cantava e me acompanhava no violão, era um
sonho tocar e cantar, mas tive que parar e o quebra-cabeça tomou forma e se
transformava numa história.
Eu me considero uma pessoa privilegiada, que veio de uma
família onde todos sempre tiveram várias aptidões. Assim como minha avó
costurava muito bem, minhas tias herdaram esse dom e até hoje são exímias
costureiras.
Meu avô tocava acordeom e violão, foi ele que me ensinou os primeiros acordes no violão, assim como ensinou aos filhos. Minhas tias cantam
muito bem e tocam piano e teclado, dois irmãos tocam instrumentos de corda
também e arranham algumas coisas mais. Na verdade este dom para tocar
instrumentos de ouvido vem passando de geração em geração, dificílimo não
encontrar um Bucci que não tenha o dom musical seja para cantar, tocar qualquer
instrumento e sempre com perfeição, uma beleza, DNA é DNA. Costumamos dizer que
Bucci tem sangue azul , somos todos pouco modestos em certos quesitos, só vi
um descendente sem aptidão musical... Meu pai.
Apesar de não ter herdado vocação para canto ou algum
instrumento tinha o dom de apreciar uma bela composição musical, um instrumento
bem tocado, aprendeu ouvindo a família a separar o joio do trigo, tinha um bom
gosto incrível que passou para os filhos. Colecionou Clássicos em vinil como:
Beethoven, Bach, entre outros. Sempre apreciou MPB e aí vem, Jamelão, Baden
Powell, Dilermando Reis, Pixinguinha, Cartola e tantos mais que não daria pra
relacionar, e toda a coleção está guardada até hoje, uma relíquia sem valor.
Ele teve outros dons,
muito inteligente, de tudo ele sabia e entendia um pouco, raramente ele dizia
não saber algo, de colocar tijolo a desenhar um novo modelo de carro
trabalhando com milésimos de milímetros, era perfeccionista em tudo o que se propunha a fazer. Sempre adorou
ver o pai e irmãos juntos cantando e tocando e gravava tudo, naquela época era
fita cassete, o som saía metálico, não tinha aparelho que pudesse reproduzir um
som bonito, sou da época da vitrola, nada de CD, era vinil mesmo e até 78
rotações eu ouvia.
Toda a família é do Rio de Janeiro, eu nasci lá, mas meu pai
veio pra São Paulo quando eu ainda era pequena e desde então fixou residência
aqui, os momentos que podíamos estar juntos com a família eram nas férias,
íamos para Rio e tudo isso acontecia, em algumas ocasiões irmãos do meu pai
vinham nos visitar e as reuniões eram homéricas, juntava a família e os amigos que
meu pai aqui fez e que também cantavam, tocavam ou só se reuniam para apreciar.
Ele se foi, mas deixou a melhor lição que um ser humano
poderia deixar para seus descendentes, pai exemplar que nos ensinou que nossa
palavra, como a dele, deve sempre valer mais que ouro, retidão de conduta, pois
é ela que vai nos proporcionar a liberdade de ir e vir sempre que quisermos e
de cabeça erguida sem dever nada a ninguém, hoje isto não é mais tão
importante, nessa nova geração o que se vê é apenas futilidades e a ganância de
se ter sempre mais e estar sempre à frente do outro, mas não com trabalho ou
criatividade, mas para se vangloriar que se tem mais.
Ainda bem que o DNA existe e o da minha família eu posso ter
orgulho, inclusive pelos exemplos e valores que me foram passados, isso tudo me
faz ter orgulho do coração que trago no peito e de quem me tornei e sou.
Que saudade, que
saudade.
Voltando aos meus retalhos, posso dizer que, cantei, dancei,
toquei, (hoje toco menos o meu querido violão) pintei e bordei literalmente.
Todos esses retalhos são pedaços de tempo... Meu tempo!
Fui juntando e mexendo aqui e acolá, dando meus toques
pessoais, mesmo porque o livre arbítrio existe. Ainda costuro, pois os retalhos
não param de chegar... Ainda vivo, portanto a história da minha vida não está
totalmente acabada.
O Blog é mais um retalho, uma peça a mais do quebra-cabeça.
A era virtual chegou pra mim, então vou procurar me expressar usando de textos,
imagens e sons pra contar minha verdade, não A Verdade, pois não pretendo ser
formadora de opiniões ou qualquer coisa do gênero.
Devo confessar que sou péssima escritora, nem de longe
saberia escrever poemas, sonetos, crônicas, eu mal sei fazer uso da minha
língua natal, o Português (eu fugia de todas as aulas dessa matéria).
Mas com a facilidade de achar na Internet tudo o que se pode
imaginar, eu comecei a ler e aprendi a gostar e pesquisar, sou leiga de tudo,
não tive contato com nada do tipo Best-Seller ou qualquer coisa do gênero, mas
quando vejo quem tem esse dom maravilhoso de juntar as palavras e fazer a gente
sonhar, viajar, chorar e rir, com certeza eu paro e leio mesmo. As imagens me
encantam, juntando palavras e imagens, então acredito que consigo me expressar,
pelo menos passar um pouco dos meus sentimentos e ideias.
Meu Blog também está sendo costurado, começou como
"Adoro azul, mas hoje quero vermelho e Ponto.", depois o nome mudou
para "Contu Pontu", depois "Preto no Branco",
"CARMABETE" até chegar aqui.
Já deu para entender porque "Palavras Alheias"
não? As imagens também pois a maioria
eu acabo pegando na Internet, Sites de imagens, pesquisas no Google.
Muito alheio, mas muito meu, nada inusitado, porém é meu e
isso muda tudo.
Já dizia William Blake:
"As alterações de olhar alteram
tudo".
Sejam todos muito bem vindos.
(imagem: 1000 imagens de Elza Mota Gomes)
Embora seja "Alheio, palavras ou imagens"tem sua personalidade,por mais que você mesma não veja(a gente nunca consegue ver a gente) quem esta de fora vê.Sabe que zanzo pela Net curiosa e loucamente e posso dizer que este Blog é muito,muito charmoso e elegante.Uma vez eu disse que eu não verei na minha vida algo tão fabuloso quanto a internet e por consequencia as suas ferramentas,por mais que seja virtual mostra um bucado do que realmente somos.Inté mais Elaine!
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