Transparências
Crônica de Claudia Letti
Eu sou lúcida na minha loucura, permanente na minha
inconstância, irriquieta na minha comodidade. Pinto a realidade com alguns
sonhos, enxerto sonhos em cenas reais. Choro lágrimas de rir e quando choro prá
valer não derramo uma lágrima.
Amo mais do que posso e, por medo, sempre menos do que sou
capaz. Busco pelo prazer da paisagem e raramente pela alegre frustração da
chegada. Quando me entrego, me atiro e quando recuo não volto. Mas não me leve
à sério, sei que nada é definitivo. Nem eu ou o que penso que eu sou. Nem nós
ou que a gente pensa que tem.
Prefiro as noites porque me nutrem na insônia, embora os
dias me iluminem quando nasce o sol. Trabalho sem salário e não entendo de
economizar. Nem energia. Me esbanjo até quando não devo e, vezes sem conta,
devo mais do que ganho.
Não acredito em duendes, bruxas, fadas ou feitiços. Nem vou
à missa. Mas faço simpatias, rezo prá algum anjo de plantão e mascaro minha fé
no deus do otimismo. Quando é impossível, debocho. Quando é permitido, duvido.
Não bebo porque só me aceito sóbria, fumo prá enganar a
ansiedade e não aposto em jogo de cartas marcadas. Não tomo café da manhã, não
almoço, vivo de dieta e penso mais do que falo. E falo muito, geralmente no
jantar. Nem sempre o que você quer saber. Eu sei.
Gosto de cara lavada – exceto por um traço preto no olhar –
pés descalços, nutro uma estranha paixão por camisetas velhas e sinto falta de
uma tatoo no lado esquerdo das costas. Mas há uma mulher em algum lugar em mim
que usa caros perfumes, sedas importadas e brilho no olhar, quando se traveste
em sedução.
Se você perceber qualquer tipo de constrangimento, não
repare, eu não tenho pudores mas, não raro, sofro de timidez. E note bem: não
sou agressiva, mas defensiva. Impaciente onde você vê ousadia. Falta de coragem
onde você pensa que é sensatez.
Mas mesmo assim, sempre pinta um momento qualquer em que eu
esqueço todos os conselhos e sigo por caminhos escuros. Estranhos desertos. E,
ignorando todas as regras, todas as armadilhas dessa vida urbana, dessa
violência cotidiana, se você me assalta, eu reajo.
Esta e outras crônicas
fazem parte do livro “Onde Não se Responde“, Claudia Letti - Editora Arte Clara
Obs. Eu estava passeando na internet e me deparei com um
site, não marquei nem salvei, mas li e fiquei encantada. Salvei esta crônica
para depois pegar o nome e poder adquirir o livro, pois quero ler mais o que a
Claudia escreve, foi uma empatia imediata uma vez que me vi diante do texto,
ela descreve a mim a você e tantos outros só nesta crônica, eu imagino o que mais
podemos encontrar.
O link abaixo é do site de Claudia Letti que a meu ver deve ser visitado...
http://lettiania.wordpress.com/
O link abaixo é do site de Claudia Letti que a meu ver deve ser visitado...
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